História de Teixeira de Freitas. Praça dos Leões: O marco zero da cidade parte 03




Por Daniel Rocha


Em 1976, a igreja e os comerciantes do centro do povoado de Teixeira de Freitas, extremo sul da Bahia, fizeram um abaixo-assinado contra a realização da feira de domingo na então praça São Pedro, hoje conhecida como Praça dos Leões.


Segundo o Frei Elias a igreja e os comerciantes solicitaram a administração alcobacense, município ao qual esse lado do povoado de Teixeira de Freitas estava subordinado, a retirada da feira livre do local, pois a feira “escravizava os lojistas e feirantes no sagrado dia de domingo".


Anos depois a prefeitura de Alcobaça atendeu ao pedido e transferiu a feira para o dia de sábado e para onde hoje é a praça da Bíblia. Segundo disse,  Marli Gomes moradora da cidade desde 1968, no novo endereço foi erguido um pequeno mercado municipal.


Por razões desconhecidas os feirantes não ficaram muito tempo no lugar. No mercado abandonado, foi improvisado um hospital que funcionou durante sete meses até que a obra do hospital SOBRASA fosse concluída.


De acordo com a moradora que carinhosamente é chamada de Dona Tilde pelos vizinhos do bairro Wilson Brito, a feira ficou na contramão do povoado, por isso os feirantes mudaram de lugar e formaram uma nova feira livre, onde hoje é o Mercadão. Devido a quantidade enorme de barracas de madeira a nova feira foi apelidada pelos moradores de “Pauzoeira”.

Como na Praça São Pedro, na  Pauzoeira  a feira  continuou livre ou seja qualquer um podia colocar uma barraca para vender sem ter que prestar esclarecimento ou pagar impostos.

Suponho que no mercado público  havia cobrança de impostos, coisa que não acontecia na feira ao ar livre, talvez tenha sido este o motivo que tenha levado os feirantes procurar outro espaço.

De acordo com a ex feirante da Pauzoeira,Ricardina Maria, não se pagava nada pelo ponto onde trabalhava vendendo carne, conta que a feira acompanhava o crescimento da cidade.

Já Marizete Aguiar ,filha de feirantes, conta que não recorda dos pais terem pedido autorização ou pago algum imposto para ter uma pequena mercearia na dita feira que teve um fim trágico.

Segundo os entrevistados, entre junho ou julho de 1986, a ocorrência de fogo não controlado pois fim a “Pauzoeira”, um incêndio  criminoso cujo a autoria é até o momento desconhecida. Ainda sobre o incêndio conta Ricardina Maria.

“A maior parte dos feirantes perderam tudo o que tinha, não sobrou nada, lembro que além das cinzas só restaram pequenas imagens de Santo Antônio,  oriunda de uma barraca  de artigos religiosos.”

Segundo Alzinete Ferreira e Talita Maia, no trabalho monográfico A feira livre, um olhar para a cidade de Teixeira de Freitas – 1960 a 2009, a estrutura existente da feira e/ou ocorrido (o incêndio), foi tão marcante para os feirantes que ainda hoje serve como um marco da qual se conta o tempo. 

Ainda de acordo com as autoras, o incêndio ocorreu na década de 1970 e não em 1980 como afirmaram os entrevistados ouvidos pelo tirabanha. Quanto ao motivo destacam a fala de um  feirante  que comentou o assunto.


“Ao perguntarmos sobre a causo do incêndio o feirante, meio desconfiado, diz ter sido alguém que mandou fazer o serviço, quem sabe por questões políticas.”


A retirada da feira da praça São Pedro, no final da década de 1960, sugere que de fato o povoado crescia enquanto centro urbano naquele local, pois fica evidente a diferenciação social que se estabelece com a ocupação e a imposição do lugar que cada qual deveria ocupar. 


Fontes:

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.
SANTOS, Alzinete Ferreira; MAIA,Talita Alves. A FEIRA LIVRE, UM OLHAR PARA A CIDADE DE TEIXEIRA DE FREITAS-1960 a 2009. UNEB-X 2010.

Referência.

NOLASCO.Loreci Kottschalk .Cidade, cidadania e moradia: A perspectiva histórica da instituição de direitos. Revista Jurídica UNIGRANA. Dourados, MS| v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002.

Foto: Feira da Pausoeira. Ano desconhecido. Fonte: Júnior Guimarães de Pádua. Disponível no Museu Virtual de Teixeira de Freitas.


Daniel Rocha

Historiador, Bacharel em Serviço Social,  Cinéfilo e blogueiro criador do blog  Tirabanha em 2010.

E-mail: tirabanha@tirabanha.com.br

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