Praça dos Leões: O marco zero da cidade parte 02



Por Daniel Rocha* 


Na década de 1960, a desativação da companhia férrea – A E. F. Bahia a Mina e abertura de novas estradas de rodagem interligando as cidades litorâneas ao interior, contribuíram para o aumento do comércio no povoado de Teixeira de Freitas. 


Casas comerciais, bares e pensões, muitas de propriedade dos moradores locais, proliferaram pela região da Avenida Marechal Castelo Branco. Uma feira livre realizada na praça, hoje conhecida como Praça dos Leões, tornou-se referência para os pequenos agricultores da redondeza. Uma festa popular realizada em janeiro chamava a atenção dos moradores. 

Sobre o então povoado e a feira realizada no lugar da praça dos leões, Isael Freitas Correa (em memória) contou em entrevista a um periódico digital da cidade que em 1965 já era perceptível o crescimento do povoado. De acordo com seus cálculos já havia naquela época umas 25 residências, distantes umas das outras, nas proximidades da pujante praça onde uma feira era realizada. 


Já a mineira Isabel Rodrigues, que chegou ao então povoado de Teixeira de Freitas em 1968 expressou em uma conversa informal outro ponto de vista, para ela a feira do povoado acanhado, pobre e sem expressão. Porém confirma que “havia sim um certo movimento de pessoas de outros lugares” atraídos pela feira. 


“O pessoal vinha para vender na feira, traziam meio saco de feijão, farinha, arroz e Abobrinha, não se matava gado porque não tinha quem comprava, matava porco pequeno, mas como tinha pouca gente vendia só uma banda, a outra salgava para não perder, quem trazia levava muita coisa de volta. Não tinha emprego no povoado, o povo vivia da pesca.” 


Já do ponto de vista do senhor Isidro Alves se assemelha ao de Isael de Freitas Correia. Ele conta que no início da década de 1960 ele, que era um trabalhador rural, costumava ir à feira do povoado vender caranguejos retirados de um mangue daquela redondeza. Na época ele morava no lugar chamado Mato Verde, zona rural de Caravelas e lembrava com satisfação do movimento da feira. 

“Levantava cedo, vinha com animal do porto até a feira. O movimento era bom, eu vendia tudo não ficava nenhum, com o dinheiro eu comprava minhas coisas e voltava para casa, foi dali que o povoado foi crescendo.”


De certo que o movimento da feira indicava um desenvolvimento crescente no lugar que também era lugar para festas tradicionais.  Conta que na época não havia nada além de um campo aberto. O lugar não era apenas usado para feira, mas também para a realização de festas religiosas como a em homenagem aos santos São Sebastião, São João e São Pedro. Na primeira, São Sebastião, todo mês de janeiro era encenado o corte dos Mouros e Cristãos. 


A encenação da luta entre Mouros e Cristãos envolvia diversas pessoas da comunidade divididas em dois grupos, um vestido de Vermelho e outro de azul, em posições contrárias. Durante a apresentação os mouros tentavam roubar a imagem de São Sebastião que ficava na capela de Santo Antônio. Os cristãos protegem a imagem e a entrada da capela, ambos os grupos com espadas. A batalha começava quando os cristãos exigiam a conversão dos mouros ao cristianismo. 


Ainda conforme Isidro Alves, a festa de São Sebastião era um evento marcante tanto para quem assistia quanto para quem participava. Tanto que frisou durante o bate papo informal que não havia brigas ou qualquer bagunça no momento da apresentação. 


“Formavam dois grupos de homens de um lado e de outro, um vestido de vermelho e outro de azul, vinham de lados opostos… Quando encontrava era muito bonito, lutavam com as espadas sem ferir uns aos outros, o objetivo era proteger a imagem de São Sebastião que ficava guardada dentro da capela.” 


Em entrevista a Jeová Queiroz na publicação Teixeira de Freitas BA, Banco do Nordeste de 1985. A professora Maria Bernarda Afirmou que a festa de São Sebastião era organizada no mês de janeiro, mas o encontro dos participantes acontecia meses antes porque era necessário treinar muito para não ferir ninguém durante a encenação organizada pela parteira Dona Ana do Torquato que contava com a ajuda de outra colega de ofício, Lurdes Cajueiro Correia, durante a realização do comentado festejo que era prestigiado por uma multidão. 


Ao longo das décadas em que foi realizada, 50,60,70,80, do século passado, a encenação da luta entre os Mouros e Cristãos tornou-se tão popular que em alguns casos foram realizados fora de época. Frei Elias informou em seu livro, por exemplo, que na inauguração da Igreja em vinte e nove de junho de 1969, a comunidade católica do povoado fez uma grande festa com direito a apresentação da "tradicional corte de Mouros e Cristãos sob liderança de Diógenes Tavares Reis''. 


De acordo com o memorialista Domingos Cajueiro Correia, que cedeu a foto que ilustra o texto, depois da urbanização da praça a festa de São Sebastião mudou de endereço e foi realizada em quintais de casas próximas, até não ser mais apresentado com o decorrer do tempo.  A foto que ilustra o texto é um registro de um corte de São Sebastião realizado em uma residência próximo à praça, no ano de 1983 e não mais na rua como era de costume, provavelmente em consequência do crescimento e ocupação do lugar. 

  

 Fontes:

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.
FERREIRA,Susana. A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960. Uneb campus-x. Teixeira de Freitas BA, 2010.
BANCO DO NORDESTE, As origens. Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará. P.05-07, Janeiro 1986
Texto de Cajueiro Correa ,  sobre Maria  de Lurdes Cajueiro.
JORNAL ALERTA. Teixeira de Freitas: (Gráfica Jornal Alerta, Ano XII N° 779ª)

Fonte oral.
Izabel Rodrigues 2012.
Isidro Alves do Nascimento 2013.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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