Por Daniel Rocha
Esses são apenas alguns dos hábitos e “rituais” comuns observados informalmente no Centro de Abastecimentos de Teixeira de Freitas, popularmente conhecido como “Mercadão”, um dos espaços mais populares e frequentados do extremo sul da Bahia. Essas práticas desafiam as normas da sociedade de consumo e reforçam aspectos da cultura local e da economia popular.
Dessa forma, ao frequentar a feira, os moradores da cidade, assim como aqueles de outras partes da região e do país, participam desses costumes que refletem não apenas suas necessidades de consumo, mas também suas conexões com outros moradores e as identidades culturais.
Como observa o historiador E.P. Thompson em “Costumes em Comum”, essas práticas cotidianas aparentemente banais, como as observáveis nas feiras populares de Teixeira e no Mercadão, são fundamentais para entender a dinâmica social e as relações de poder em uma determinada sociedade, também sendo relevantes na formação da identidade cultural de um povo.
Essa observação também vai de encontro com o que é exposto no livro “História e Memória”, do historiador Jacques Le Goff, que nos lembra que os rituais populares são elementos-chave na construção e preservação da memória coletiva de um grupo social. Definição que pode ser associada à memória cotidiana dos teixeirenses e seus “rituais de feiras” cada dia mais ameaçada pela ocupação dos espaços e supermercados gigantescos e suas megas estruturas.
Sobre essa observação, é importante notar que, no caso dos frequentadores do “Mercadão”, essas práticas de barganha comum e popular estão perdendo espaço para o comércio de produtos industrializados, que avança sobre o espaço da feira livre com a construção de boxes externos e estruturas dissonantes da arquitetura originalmente pensada para ocupação dos feirantes cada dia mais expulsos para fora, o que interfere nas práticas populares de compra e venda de produtos locais.
A partir de 2013 esses espaços começam a ser ocupados por boxes. |
Sobre isso, afirmou informalmente a feirante Norma Agustina Ferreira, que os trabalhadores advindos da zona rural estão cada dia mais sem espaços para venda de seus produtos na parte interna do Centro de Abastecimento, por isso nos últimos anos tem se aglomerado mais na rua lateral, rua Ipiranga, disponibilizada pelo município, para comercialização livre, ou seja, sem taxação, mas fora dos pontos mais movimentados da feira que se espelha junto aos comércios dos arredores.
Nesse contexto, é importante dizer que a preservação das características da feira livre no espaço do centro de abastecimento torna-se necessária, pois desempenha um papel favorável aos rituais comuns de negociação do preço e valorização de produtos locais, ritos que não são possíveis em espaços como supermercados e atacados.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
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